A Reserva Natural do Paul do Boquilobo foi criada em 1980, na maior zona húmida de Portugal situada no centro do país, englobando os concelhos de Torres Novas e Golegã. Os seus valores ornitológicos presidiram ao estabelecimento da necessidade de práticas de conservação do ecossistema local, embora muitos outros valores naturais se possam acrescentar, destacando-se o papel do paul no equilíbrio hídrico da região. O interesse despertado rapidamente ultrapassou fronteiras e por isso esta zona húmida foi a primeira reserva do país a ser classificada em 1981 pela UNESCO como Reserva da Biosfera. Nestes 40 anos muito se alterou no que diz respeito aos aspetos de propriedade, conservação, usufruto e governança deste património natural. Desde 2015 a Reserva da Biosfera do Paul do Boquilobo ocupa uma área de 5.896 ha, abrangendo uma população de 8450 habitantes e rege-se pelos princípios do programa “O Homem e a Biosfera” criado pela UNESCO, que enfatiza 3 vertentes principais: a vertente conservacionista, a de desenvolvimento sustentável e a da investigação e monitorização destas reservas.
O problema que está na génese deste projeto é a constatação, feita há algum tempo pela Unidade de Gestão da Reserva da Biosfera do Paul do Boquilobo (que o IPT integra enquanto membro do Conselho Consultivo), da necessidade de criação de um espaço de partilha do conhecimento que se gera sobre o local, da sua biodiversidade e da envolvente ambiental, social e económica, onde se mantenha e melhore o potencial de conservação, aliando-o a um desenvolvimento sustentável que tenha em conta as pessoas e suas atividades económicas.
O projeto que agora se apresenta tem como objetivo principal promover o desenvolvimento desse espaço de reflexão, experimentação, análise e sensibilização consolidados sob a forma de Observatório-Parque Experimental que se pretende abrangente e, por isso mesmo, repartido por diferentes segmentos:
i) Monitorização da qualidade ambiental e salvaguarda do património natural
ii) Divulgação do conhecimento científico gerado em ambiente de I&D através de eventos desde a escala local à escala internacional
iii) Formação e capacitação de agentes territoriais para valorização do território e beneficiação das comunidades locais
iv) Sensibilização para as questões ambientais e de sustentabilidade com base no acompanhamento científico gerado
v) Análise da evolução da procura turística do local, tratamento da informação de apoio à decisão e salvaguarda do património cultural da envolvente territorial
vi) Criação de novas formas de interação com a comunidade na procura do equilíbrio entre o espaço natural e a sociedade
vii) Produção e disseminação de materiais visando a aplicação de boas práticas ambientais e culturais.
Este Observatório deverá ser um espaço de análise técnico-científica interdisciplinar com enfoque especial na Natureza, na Cultura e no Turismo.
Como metodologia de abordagem segue-se a tipologia Bottom Up com o objetivo de agregar valor produzido pela investigação, sua disseminação e empoderamento dos atores territoriais. O projeto assenta em 6 tarefas principais, nomeadamente:
Tarefa 1 - Conceito e Identificação das Áreas de Interesse do Observatório;
Tarefa 2 – Funcionalidades e operacionalização do Observatório;
Tarefa 3 – Atividades Experimentais no domínio dos Serviços de Ecossistema e Alterações Climáticas;
Tarefa 4 – Atividades Experimentais no domínio da Monitorização e Depuração de águas paradas;
Tarefa 5 – Atividades Experimentais em Turismo e Revalorização das Artes e Ofícios;
Tarefa 6 – Concretização da plataforma tecnológica para partilha de dados e disseminação de informação;
Tarefa 7 - Expansão geográfica da ideia e conceito.
Pretende-se que o observatório se desenvolva em 2 polos distintos, um espaço físico na área de influência da Reserva e uma plataforma tecnológica de divulgação de conhecimento a implantar no servidor do IPT.
De um ponto de vista da originalidade e inovação, a aposta faz-se com a criação do “observatório piloto” focado no Paul do Boquilobo, como base da estruturação de uma possível futura rede de observatórios sediados na zona de influência da bacia hidrográfica do Tejo.
Nesta lógica, os resultados expectáveis serão, principalmente, os seguintes:
- criação de condições para o desenvolvimento de estudos territoriais baseados na salvaguarda da biodiversidade e dos recursos naturais com impacte no universo científico;
- estímulo da sensibilização ambiental e do interesse das populações para adoção de comportamentos alinhados com a Agenda 2030 da ONU, no pressuposto da implementação prática dos 17 ODS;
- promoção do desenvolvimento ambiental, social e económico sustentáveis a partir da mobilização da investigação científica como fator de transformação societal;
- criação de condições que, baseadas na Ciência e Tecnologia, permitam por via da divulgação do conhecimento e da sua integração na sociedade empoderar todos os atores territoriais para um maior equilíbrio entre os recursos naturais e o seu uso pelas comunidades.
O projeto responde às necessidades elencadas pela estratégia do Techn&Art no âmbito da salvaguarda e valorização patrimonial centrando-se, não apenas nas questões de natureza técnica e científica mas, também, na necessidade socialmente sentida de criar mais cultura disseminável na área geográfica de abrangência do projeto e sua envolvente externa. Nesta perspetiva preveem-se ganhos de notoriedade para o IPT que tem já larga tradição no acompanhamento científico à Reserva Natural do Paul do Boquilobo. Por último, acredita-se que com esta intervenção se promova uma melhor interação entre os residentes e os visitantes criando novas motivações sociais, com benefício para a conservação dos recursos endógenos, ponto fundamental para melhorar a qualidade de vida.
©Instituto Politécnico de Tomar | Todos os direitos reservados |
Copyright